Jornada Nacional das Atingidas: a luta das mulheres frente ao patriarcado e ao fascismo
Jornada Nacional das Atingidas: a luta das mulheres frente ao patriarcado e ao fascismo
Publicado 04/06/2025

A tarde do terceiro dia da Jornada Nacional das Mulheres, em Brasília, convidou as atingidas a refletirem especialmente os seus direitos e os diversos mecanismos de opressão das mulheres. Patriarcado e Violência: Os Desafios da Luta das Mulheres no Atual Contexto Histórico e o Legado das Lutadoras Atingidas foi o tema da mesa desta tarde, que contou com a presença de ministras e companheiras de outros Movimentos Sociais. A mística que iniciou o momento, além de lembrar as atingidas do crime do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, também promoveu o lançamento do livro “Imprensados no Tempo da Crise: A Gestão das Afetações no Desastre”, de Flávia Amboss.
Soniamara Maranho, integrante da coordenação nacional do MAB, abriu a mesa retomando a história de lutas das mulheres no Brasil e no MAB, e os principais desafios no combate contra o fascismo. “Depois de 40 anos de luta e organização, vimos que as mulheres são as mais atingidas das empresas que constroem barragens. Nós somos as principais vítimas das secas, das cheias e dos rompimentos de barragens”, alertou. Segundo Soniamara, temos total convicção que nosso inimigo principal é o sistema capitalista e imperialista, além do fascismo, que é a “fase superior e violenta do capitalismo que está se reorganizando no mundo”.

Ainda que sejam as maiores vítimas deste sistema, das mudanças climáticas e de outras ameaças que se acercam, “as mulheres são também as maiores defensoras dos direitos humanos das populações atingidas e do movimento internacional dos atingidos”, destacou Soniamara, registrando que “na coordenação nacional do MAB, somos 70% mulheres e na nossa base também a maioria são mulheres. São as mulheres que qualificam o MAB”, afirmou.
Com a presença de duas Ministras de Estado na mesa, ela concluiu: “Nós temos uma pauta histórica do MAB e queremos muito que as ministras assumam conosco a efetivação de um fundo para os atingidos e um órgão que faça valer a nossa pauta, porque queremos permanecer vivas, defendendo a democracia do nosso país”.
Pé no chão: a luta permanente em cada território
Jaqueline Damasceno e Vanessa Moreira, atingidas do MAB do Pará e da Bahia, respectivamente, apresentaram a realidade da luta contra o fascismo em seus territórios. “Em Rondônia, perdemos Nicinha; no Pará, perdemos a Dilma Ferreira. Precisamos que o Estado Brasileiro garanta nossa proteção”, disse Jaqueline, que também é coordenadora do Coletivo Nacional de Direitos Humanos do MAB.
Vanessa Moreira e Silva é de Correntina (BA) e filha de Solange e Vanderlei, companheiros fecheiros criminalizados e presos no RJ no dia 16 de maio. “O sentimento que eu trago hoje é de tristeza e revolta, porque somos diariamente amedrontadas por um modelo que prioriza o lucro acima de todos os nossos direitos”, expressou Vanessa. Para ela, a prisão dos pais tem plena motivação política. “Eles não são culpados e estão lá por terem defendido a nossa vida: de atingidos, fecheiros, ribeirinhos, dos povos originários. Exigimos do Estado que regularize nossos territórios e que liberte Solange e Vanderlei já!”, clamou ela.
O apoio dos Ministérios das Mulheres e de Direitos Humanos e Cidadania

“Lutar não é crime, mas sabemos que lutamos contra forças muito poderosas e organizadas, e aí o nosso desafio de organização é cada vez maior”, iniciou Macaé Evaristo, Ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania. Ela seguiu colocando o Ministério à disposição para atuar no caso de Solange e Vanderlei e assumiu o compromisso do MDH com a agenda e a pauta do MAB.
Saudando com alegria as atingidas presentes na Jornada, Macaé analisou que, “quando falamos de mulheres atingidas, vamos além das atingidas por barragens. Estamos falando de muitas mulheres de nosso país, que sistematicamente têm seus direitos violados. Para fazer justiça, ainda há muita coisa que precisamos mudar e avançar”.
“No Ministério trabalhamos para ressignificar a concepção dos Direitos Humanos. Porque os fascistas trabalharam de uma maneira efetiva para construir no Brasil a ideia de que defender os direitos humanos é o mesmo que defender bandidos, isso porque eles criminalizam todo mundo que luta. As pessoas têm que compreender que quando falamos de Direitos Humanos, estamos falando de dignidade, e isso é ter direito à terra, à moradia, à segurança alimentar e à água de qualidade”.
A Ministra seguiu ressaltando a necessidade de “reafirmar os direitos humanos, a dignidade e a importância de estabelecer uma nova relação com o planeta”, e concluiu afirmando que o Ministério trabalha para efetivar uma política nacional de defensores dos direitos humanos.

A Secretária Executiva Adjunta do Ministério das Mulheres, Eutália Barbosa, representou a Ministra Maria Helena Guarezi, e também iniciou expressando solidariedade a Solange e Vanderlei. “Este é o governo em que lutar não é crime, pelo contrário, a chegada desse governo é fruto da luta coletiva do povo que defende a democracia e o direito da classe trabalhadora”, analisou Eutália.
Ela continuou destacando que, no sistema capitalista e fascista em que vivemos, a luta das mulheres é constantemente criminalizada, “de modo que sempre se utiliza o debate de gênero dos corpos e das vidas das mulheres para criminalizar a luta. Mas não daremos nem um o atrás, não retrocederemos!”, anunciou Eutália.
Os privilégios do patriarcado
Maria Fernanda Marcelino, da Marcha Mundial das Mulheres, apresentou os dados de uma estatística estarrecedora: no Brasil, a cada dia, são mortas de 07 a 10 mulheres de feminicídio. Este sistema, conforme Fernanda, é o mesmo que explora diariamente o trabalho das mulheres: “O patriarcado e o capitalismo mantêm muitos privilégios, por exemplo, de os homens não se preocuparem com as crianças e com os idosos, ou de chegarem do trabalho e descansarem”, observou ela.
“Quando um homem levanta de manhã cedo pra trabalhar, o que ele faz? Sai da cama, toma café da manhã e sai pro trabalho com a sua marmita. Vocês já pararam pra pensar quanto trabalho envolvido da mulher para preparar o café, ajeitar as crianças, fazer a marmita do marido, arrumar a cama, organizar a casa…?”, questionou Maria, para explicar de forma mais popular o conceito do patriarcado.
Entre muitas parcerias, a Universidade de Brasília
Durante a tarde desta quarta-feira, também participaram da mesa a Drª Rosaly Stange, da Associação das Juízas pela Democracia; Janira Sodré, da Marcha das Mulheres Negras; Juliana Cardoso, Deputada Federal (PT/SP); Juciane Lago, do Movimento das Mulheres Camponesas; e Vilma Reis, Assessora Especial da Presidência da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.

Rozana Naves, Reitora da Universidade de Brasília (UnB), integrou a mesa e expressou a alegria da instituição por acolher a Jornada nesta semana: “É uma honra para a Universidade de Brasília recepcionar este encontro tão potente. Quero parabenizar o MAB, por aprofundar a luta e as discussões em prol das reparações possíveis, tanto no que diz respeito às desigualdades de gênero, como às desigualdades sociais. Ainda mais nesse contexto em que as crises climáticas e o poder do capital atingem de inúmeras formas as pessoas”. Ao fim, a reitora alertou: “Não vamos nos iludir que estamos livres do fascismo, que retira os direitos, impõe pautas conservadoras e age pelo autoritarismo, impelido pelo capital”.
No combate ao fascismo, na luta contra o machismo, no enfrentamento da crise climática, seguimos juntas para avançar nos direitos!
Você pode conferir a mesa na íntegra em nosso canal do YouTube:
