Mil mulheres atingidas por barragens se reúnem em Brasília para uma jornada de luta e celebração, onde a cultura e a autonomia feminina ganham destaque na vibrante Feira de Integração Cultural
Publicado 03/06/2025 - Atualizado 03/06/2025

Teve início ontem, 02, a Feira de Integração Cultural que integra a programação da Jornada das Mulheres do MAB, que acontece na UNB, em Brasília (DF), até o próximo dia 05. A primeira edição da feira é o resultado de um esforço coletivo da organização, contando com a participação de 59 expositoras, que trouxeram suas produções regionais de cooperativas, associações e organizações de 14 estados, abrangendo todas as regiões do Brasil, do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, ao Amapá.
Segundo Tamires Cruz, integrante da coordenação do MAB, o espaço também estimula um processo de auto-organização e aprendizado coletivo, onde as mulheres de diferentes comunidades se dedicaram a padronizar etiquetas, embalagens e seus próprios estandes de venda, tornando o espaço das plenárias da Jornada Nacional de Luta ainda mais acolhedor e visualmente atraente.

Os produtos expostos incluem peças artesanais de crochê e renda, itens de decoração, artefatos indígenas e quilombolas, roupas, cosméticos e óleos essenciais. Organizações fornecedoras e receptoras do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) dos territórios atingidos também estão expondo alimentos in natura e processados, além de uma variedade de biscoitos e bolachas para todos os gostos. “Tudo isso adiciona cultura, cor e diversidade à construção coletiva da Jornada”, afirma Tamires Cruz, integrante da coordenação do MAB.



Maria Gonçalves, coordenadora da Feira, ressalta a importância da iniciativa para valorizar a produção feminina e sua atuação comunitária.
“Quando a mulher produz sua horta, suas plantas medicinais, ela também defende o território. Principalmente nas comunidades tradicionais, é uma forma de delimitação, uma ferramenta de defesa contra invasores. Quando essa mulher sai da subsistência e vem para a feira, ela garante outra dimensão que é a autonomia financeira, algo muito importante para as mulheres”.
A coordenadora também reforça o aspecto cultural do evento que permite que as mulheres possam conviver com outras expositoras de outras regiões e com outros produtos. “Vira um espaço de muito afeto, trocas e aprendizado. Nós que estamos na organização do evento também temos aprendido muito com as expositoras da feira”, afirma.



A proposta da feira foi recebida com grande entusiasmo pelas mulheres atingidas. Maria José Pompeu Sodré, de Coribe (BA), é uma das expositoras da Feira de Integração Cultural. Ela afirma que o espaço é também uma forma de resistência e de celebrar a ancestralidade e o ree de saberes das mulheres presentes. “Aprendi a bordar aos sete anos com a minha mãe, e hoje tenho o maior prazer em dividir esse aprendizado com outras mulheres.”
Além de fortalecer a autonomia financeira e geração de renda, a feira é uma oportunidade ímpar para difundir a diversidade da produção cultural realizada pelos rostos regionais que, em todo o Brasil, constroem o Movimento de Atingidas e Atingidos por Barragens.
Sobre a Jornada de Lutas das Mulheres do MAB
Entre os dias 2 e 5 de junho, cerca de mil mulheres de 20 estados brasileiros estão reunidas no Centro Comunitário Athos Bulcão, na Universidade de Brasília (UnB), para a Jornada Nacional de Luta das Mulheres Atingidas. Este encontro, organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), é um espaço crucial para debater violações de direitos, pressionar por políticas públicas para os atingidos atingidas e marchar contra a devastação ambiental no país.
A jornada também aborda temas como o avanço da crise climática e do fascismo, que afetam diretamente as mulheres com o aumento da violência e a tentativa de controle sobre seus corpos. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, esteve presente na abertura do evento, que visa fortalecer a resistência popular brasileira e garantir um futuro mais justo e equitativo.
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