Atingidos e atingidas em Rondônia constroem coletivo de saúde junto à Fiocruz
Formação é fruto de termo firmado pelas organizações para o fortalecimento da vigilância popular em saúde no enfrentamento aos determinantes socioambientais dos territórios
Publicado 26/05/2025 - Atualizado 29/05/2025

Entre os dias 04 a 06 de abril, o Movimento dos Atingidos por Barragens realizou em Porto Velho (RO) a Oficina Estadual para Formação e Fortalecimento do Coletivo de Saúde, parte de uma série de formações realizadas em nível nacional, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), através de Termo de Cooperação Técnica que procura capacitar e reconhecer representantes de comunidades atingidas enquanto vigilantes populares em saúde.
“A gente precisa aprender o que é a vigilância popular, ver como a gente pode fazer a vigilância, como melhorar e como usar outras técnicas da vigilância. Até porque, a gente já pratica, através dos nossos saberes tradicionais, nossos saberes populares”, destaca Missay Nobre da coordenação estadual.

A formação contou com atingidos e atingidas dos territórios que o MAB articula no estado. Além da presença da Coordenação Estadual, de pesquisadores colaboradores e de profissionais da Fiocruz que têm acompanhado as formações por todo o país: o doutor em Medicina Tropical, Alexandre Pessoa Dias, e a doutora em Epidemiologia e Saúde Pública, Priscila Neves Silva.
“Receber essa capacitação nos ensina muito sobre a vigilância em saúde, porque, muitas vezes, nós pensamos que o estado ausente causa um prejuízo grande pra comunidade, mas uma pessoa da comunidade que não entende dos seus direitos, não entende como mobilizar nessas situações, acaba sendo tão prejudicial quanto o estado ausente. Quando a gente tem essa capacitação, e aprende a fazer essa escalada na busca por serviços de saúde, a gente consegue melhorias pra toda a comunidade”, destaca Del Belfort, militante do MAB.

A programação iniciou na sexta (04), com uma exposição sobre os impactos das mudanças climáticas na região e as campanhas para mitigação, apresentadas por Océlio Muniz (coordenação do MAB/RO). Seguiu com apresentação do professor Ricardo Gilson (DGEO/UNIR) sobre a conjuntura geopolítica do agronegócio em Rondônia e finalizamos o dia com a exposição de Najla Benevides (Fiocruz/RO) sobre saúde e ambiente no contexto das barragens no estado, onde apresentou o resultado das coletas de água que realizou em comunidades do Médio e Baixo Madeiras.
No segundo dia (05), Alexandre ministrou sobre o conceito de determinação social da saúde, seguido de Priscila Neves, com o histórico, princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) e a Constituição Cidadã. Priscila ainda apresentou sobre a vigilância em saúde e os seus componentes: ambiental, epidemiológica, sanitária e da saúde do trabalhador, unindo aos tópicos básicos da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas (PNSIPCFA). O sábado terminou com uma pesquisa de campo da enchente que assolava a região portuária da capital, findando com uma Noite Cultural para integração e celebração da luta.


Mirene Alves, atingida e coordenadora da comunidade de Nova Aliança (Porto Velho/RO), no Baixo Madeira, apresenta que “A nossa demanda é muito grande. Pois, além da gente atender a nossa comunidade, também atendemos as vizinhas e, assim, dá uma superlotação. A gente queria que a melhoria viesse pra poder expandir e atender a todas as comunidades que precisam”.
No domingo (06), último dia, Alexandre afunilou os temas unindo a vigilância popular em saúde e a construção do Coletivo Estadual de Saúde, guiada por Missay e Breno Vinícius Martins (coordenador do MAB/RO). Assim, fez-se o objetivo da oficina: construir em conjunto a pauta do coletivo, desenvolvida por atividades em grupo realizadas ao final de cada dia, baseadas na Matriz de Processos Críticos de Corvalán, onde atingidos e atingidas trabalharam os temas principais em dois grupos: Agronegócio e Enchente.

“A nossa realidade lá (na comunidade) da saúde é totalmente precária. Nós estamos vivendo a situação com o agrotóxico, onde sempre procuramos as unidades de saúde quando a gente tem alergia e diarreia devido a pulverização do agrotóxico. (…) Vou poder levar pra minha comunidade e ar o que aprendemos aqui nesses três dias. Levar esperança para eles”, destaca Cleudineia Oliveira, atingida de Triunfo (Candeias do Jamari/RO) e militante do MAB.
